terça-feira, 20 de dezembro de 2016

As dificuldades da língua

Como anteriormente falei sobre a nossa mudança, hoje vou falar um pouco da adaptação da língua para mim aqui em Valência.

Eu não sabia falar espanhol, não fiz nenhum curso no Brasil antes de me mudar. Somos em quatro pessoas e vamos combinar que o valor de um curso na época em torno estava por volta de R$400,00 por pessoa e para criança era um pouco mais caro. E também estávamos numa correria tão grande e louca, que seria complicado conciliar os horários.

O meu marido fazia e ainda faz aulas pelos Skype com uma professora excelente, Verônica que vive aqui em Valencia. Isso também ajudou bastante porque eles conversavam de bairros, escolas, sobre como era viver aqui. Eu não quis fazer porque tinha vergonha. O que eu iria conversar se não sei falar nada? Coisas da minha cabeça, hahaha.

O que todo mundo me dizia no Brasil: Espanhol é fácil, você vai tirar de letra! Você é inteligente, logo já vai falar! Ouça músicas em Espanhol que vai ajudar, filmes então...

O que todo mundo esqueceu de me contar: Espanhol é quem nasce aqui, a língua é castelhano. Já comecei errando aí. Claro que algumas pessoas chamam a língua de espanhol, mas eu levei muita advertência, para não falar bronca, dos idosos e de professores. Quando vinham falar comigo e eu dizia que não falava muito bem espanhol, me corrigiam porque aqui se fala CASTELHANO, hahahaha. Eles falam muito rápido, alguns enrolados, outros rindo e eu cada dia mais desesperada. O mais engraçado é que nós brasileiros entendemos, um pouco do que eles falam, mas eles não entendem nada do que falamos. Não me perguntem porque. 

Tenho uma amiga da Russia que deu um exemplo que na hora achei um pouco ofensivo, mas me vi perfeitamente nesse exemplo:

“Quando comecei a entender espanhol me sentia um cachorrinho, pois entendia tudo e não conseguia falar nada”. 

Gente, é bem assim, entendemos muito mais do que falamos.

Aqui na Espanha para quem não sabe, existem, além do castelhano, mais 3 línguas co-oficiais: o galego, o basco e o catalão. Aqui em Valência, se fala também o valenciano que é uma língua derivada do catalão (se algum valenciano ou catalão ler isso vai me matar, rsrsrs). Para mim é uma mistura, de francês com castelhano com italiano. Aqui na capital vemos poucas pessoas falando o valenciano. A língua mais falada é o castelhano, em nas cidades mais afastadas, as pessoas falam mais o valenciano. Se falar em castelhano elas entendem normal. Aqui falam as duas línguas super bem e também muita gente fala um pouco de francês, porque eles aprendem na escola, pois eles tem como opção de segundo idioma no colégio, o Francês ou o Inglês.

Aqui todas as informações de escola, metrô, sites de serviços públicos, estão escritos em castelhano e em valenciano, o que nos ajuda aprender valenciano aos pouquinhos.

Como me encanta a história do Pequeno Príncipe, vou colocar aqui uma frase em castelhano e o outro em valenciano para que possam ver a diferença:

“Es una locura odiar a todas las rosas sólo porque una te pinchó. Renunciar a todos tus sueños sólo porque uno de ellos no se cumplió.”

"Es una bogeria odiar a totes les roses només perquè una et va punxar. Renunciar a tots els teus sons només perquè un d'ells no es cumplió."

É bem parecido, não é? Mas o valenciano falado é bem mais difícil de entender. A pronuncia é bem diferente. 

Não precisa saber valenciano para viver aqui, se vive muito bem só falando castelhano. Agora, se for trabalhar em algum cargo público com certeza vai ter que saber.

Quando vamos matricular nossos filhos, temos a opção de ensino em língua valenciana ou castelhana. Na hora da matricula que você faz a opção. Isso nas escolas públicas, já nas particulares e nas concertadas (escolas particulares subsidiadas pelo governo) eu não tenho conhecimento de como funcionam. 

As escolas públicas agora estão com um sistema progressivo. Estão colocando aos pouquinhos mais matérias em valenciano, mesmo optando pelo curso castelhano. Meus filhos tem 2 matérias em valenciano. No começo eu não gostei, pois se optei por castelhano, por que vão ter conteúdos em valenciano? E pensava, meu filho vai aprender valenciano para quê? Vai falar só aqui. E uma voz lá no fundo dizia, e português que eles já sabem, irão falar onde? rsrsrs 

Como toquei no assunto escola, vou dizer um pouco como foi a adaptação dos meus filhos à língua. Eles também não sabiam falar castelhano. Poderíamos matricular os meninos em escolas que tem ajuda no idioma para estrangeiros, mas optamos por escolas normais, pois não queríamos que nossos filhos se sentissem diferente das outras crianças.

Estavam super nervosos nos primeiros dias de aula. Foi de cortar o coração deixa-los ali na escola. São crianças tímidas, o mais velho de 15 anos se adaptou mais fácil. Para o mais novo foi mais difícil, pois queria se comunicar, fazer amigos. Tinha muita vergonha de falar errado e virar o tonto da escola. Eles foram para escolas diferentes, pois o mais velho já está no ensino médio e aqui não encontramos uma escola onde os dois poderiam ir juntos. 

Foi maravilhoso como os professores e amigos acolheram meus filhos. Eles eram a novidade na escola, todos os amigos queriam saber como era o Brasil e acharam o máximo ter um amigo estrangeiro. Todos queriam ajudar a aprendizagem da língua. Depois de fazer os primeiros amigos, o primeiro assunto que trocaram foram os palavrões, hahahaha... Como se diz @*%#& isso em português? 

Hoje percebo que foi a melhor coisa que fizemos para eles. São mais amigos, brigam menos em casa e um dão apoio ao outro quando a tristeza e o desanimo bate. Já estão falando castelhano melhor que eu e meu marido. Chegamos naquela fase que eles nos corrigem o tempo todo. Já a língua valenciana entendem bem e falam alguma coisa.

Conhecimento nunca é demais! Tenho muitas coisas para falar de escolas e isso vai dar mais um post ;-)

Um bom curso para quem quer morar aqui e aprender espanhol, é na Escola Oficial de Idiomas Valencia. O valor do curso é bem acessível, custa 90 euros (por ano). As vagas são bem limitadas e por sorteio. Mais informações vocês encontram no site http://mestreacasa.gva.es/web/eoivalencia/inicio . Essa escola é no centro e existem outras credenciadas a ela, e você pode estudar em uma mais próximo de sua casa. 

Aqui também temos escolas públicas onde podemos fazer curso básico de Espanhol para estrangeiros (mas não faz parte da Escola Oficial). Um ano de curso, duas vezes por semana,  custa 15 euros ao ano. Aprendi o básico e agora já perdi aquela vergonha e aos pouquinhos vou aprendendo mais.

“Quando a gente anda sempre em frente, não pode ir muito longe...” Antoine Saint-Exupéry

Termino aqui por hoje, onde com essa frase podemos refletir, se sempre andamos reto, perdemos milhões de possibilidades e vivências, a vida é curta e devemos explorar novos caminhos.


Saludos 


Ana 

*imagem retirada do Google Images

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Mudando para Europa



Sou Ana Flávia, sou formada em pedagogia, fotógrafa e hoje trabalho como artesã, faço bonecas. Sou casada, mãe de dois filhos, vivo em Valencia, amo viajar, estar entre a natureza, olhar a lua, as estrelas e viver junto do mar!

Resolvi fazer esse blog para contar um pouco da minha mudança para Europa, na verdade nossa mudança. Mudei com meu marido e meus dois filhos, um de 15 anos e o outro de 9.

Sei que este post vai interessar a muitas pessoas que querem mudar e falta coragem, tem medo, pensam na adaptação das crianças no país novo e na escola, aprender uma nova língua, etc. E com esse blog espero esclarecer dúvidas e mostrar para as pessoas que mudar não é um monstro de sete cabeças é só de duas, hahahahaha e também que nem tudo são flores o tempo todo.

Mais antes disso vou falar um pouquinho de mim, para que vocês possam entender que mudar para mim é algo normal.

Nasci no Rio de Janeiro, com alguns dias de vida, mudei para São Paulo (capital), onde vivi até meus 23 anos. Claro que mudei dentro de São Paulo, três vezes com meus avós (eu vivia com meus avós, olha que coisa boa!). Casei e me mudei. Mas essa não conta, porque todo mundo muda quando se casa rsrsrsrs. Depois de casada, me mudei 7 vezes entre as cidades de Cotia, São João da Boa Vista, Florianópolis e Curitiba. Em todas as mudanças nós estavámos em busca qualidade de vida e tranquilidade, e no meio dessas mudanças tive meus dois filhos e nem me perguntem onde nasceram, porque cada um nasceu em um lugar diferente! 

Uma coisa engraçada foi quando nosso filho na época com 5 anos nos perguntou: 
-Somos Nômades? 
E eu respondi: 
-Não, ainda não! rsrsrs 

Depois de viver 5 anos em Curitiba, nós decidimos que a qualidade de vida e segurança que buscávamos, infelizmente não estava no  Brasil. Até que decidimos mudar mais uma vez, mas dessa vez para um pouco mais longe: Valência - Espanha.

Como neta e bisneta de italianos, tenho direito à cidadania. Optei em fazer o processo pela Itália, com um profissional indicado por um primo que já tinha feito anteriormente. O Márcio, da Ittalli Cidadania Italiana, um profissional super sério fez todo o nosso processo e no final viramos amigos. 

Claro que ser cidadã européia facilitou a nossa mudança, mas não significa que foi fácil. Pelo contrário, tive muitas pedras no caminho aqui na Espanha.

A mudança foi uma loucura, doamos coisas, vendemos coisas, guardamos coisas e trouxemos coisas... Ufa, muito cansativo! Como fica muito caro fazer uma mudança com tudo, decidimos que venderíamos o que estava novo e doaria as coisas usadas. Para mim foi uma sensação boa de liberdade e percebi como juntamos coisas que nunca usamos e nunca vamos usar. A pior parte para mim foi a despedida, de amigos e família e também ter deixado nossa cachorrinha que por problemas de saúde nāo poderia embarcar e ficou com a minha mãe. Não foi nada fácil. Mas afinal, quem disse que a vida é fácil?

Depois de horas de vôo e mortos, chegamos em Valência. Era final de tarde. Fomos direto para o apartamento que alugamos pelo Airbnb. Ao chegar, nos deparamos com o primeiro obstáculo. Quando alugamos, esquecemos do detalhe do elevador, que para nosso azar, o prédio não tinha. Estávamos cansados, com 8 malas grandes, dois filhos, um com fome e outro perguntando se ali teria internet (claro que na cabeça da criança se não tem elevador, internet então nem pensar, rsrsrsrs). Juro que quase voltei para Brasil. Mas a proprietária nos ajudou, arrumou dois jovens que subiram com as bagagens e pagamos um dinheiro, e todo mundo ficou feliz!

Descansar nem pensar! Dormi 2 longas horas, e peguei outro vôo para Itália para fazer meu RG italiano, e poder dar entrada na minha vida aqui na Europa. Foi um vôo super cedo, mas pelo menos é curto, mais ou menos 2 horas. A foto do RG saiu horrorosa, cara de cansada, sem maquiagem, um horror. Mas o que importa é que saiu na hora. Aqui não pegam digitais para fazer RG somente para fazer o passaporte.

Depois dessa correria, de volta a Valência, fomos conhecer a cidade e procurar um apartamento para morar. Para poder viver aqui na Espanha, você tem que ter um registro na prefeitura (se chama empadronamiento) e um número de NIE (registro de estrangeiro). O empadronamiento é facil fazer, mas você tem que ter um contrato de aluguel. E para alugar, você precisa ter conta bancária. É tudo interligado. O NIE é mais complicado, porque você deve comprovar meios de viver aqui. Pedem muitos documentos... Contamos com a ajuda da Susana Sawa, uma advogada brasileira de Madrid. Mas o processo do NIE já é um assunto para outro post. :)

A conta bancária é obrigatória, pois aqui não existe boleto bancário, você dá o número da sua conta e tudo é debitado ali: aluguel, água, luz, telefone e até mesmo uma atividade extra da escola. 

Aqui para todos os serviços públicos, inclusive os que emitem documentos de residência, etc, precisamos pegar senha pela internet. Não adianta ir lá sem a senha, que não vai ser atendido.

Como meu marido é brasileiro, tem direito a permanecer aqui como familiar de comunitário europeu. Ele só conseguiu fazer os documentos para permanecer aqui depois que os meus documentos espanhóis estavam prontos. E só depois disso tudo, fizemos os dos nossos filhos. Mas agora, com tudo mais calmo, podemos entrar com o pedido de cidadania italiana para ele, por estar casado comigo.

Vou tentar escrever um post por semana. Quero contar como é viver aqui, os costumes, os micos que paguei e ainda pago, tirar carteira de motorista, a adaptação na escola. Se tiverem alguma pergunta pode deixá-la nos comentários que respondo assim que puder.

Gosto sempre de terminar com uma frase inspiradora: 

"Não tenha medo da mudança. Ela assusta, mas poderá ser a chave daquela porta que você tanto almeja entrar" (D.A)





Saludos


Ana